Da Saharienne criada por Yves Saint Laurent, tantas e tantas vezes reeditada, às animal prints e maxicolares, a moda sempre está a percorrer uma ou outra trilha em território Africano.
A mais recente delas apareceu na primavera 2014 da Valentino. O tema central, proposto por Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli foi a Ópera e à Medea de Maria Callas, mas ali também estavam as referências étnicas à África.
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Valentino Primavera/ Verão 2014 |
Contudo, há algum tempo o continente deixou de ser apenas fonte de inspiração para o mundo e se afirma como um polo de criação. Com a autoridade de quem fala de suas próprias raízes e de sua própria cultura, uma safra de estilistas africanos têm mostrado peças sofisticadas, originais e com apelo comercial.
A familiaridade com a capulana e outros tecidos tipicamente africanos, como ankara, aso oke, kitenge e vlisco contam pontos para a originalidade. Feitos de algodão, com cores fortes e brilhantes, estampas geométricas, motivos animais ou representações de figuras políticas e religiosas os tecidos têm múltiplos usos práticos e múltiplas interpretações criativas.
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Mulher usa
capulana amarrada à cabeça/ Crédito
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Amostras de Kitenge à
venda no Mercado Kimironko, em Kigali Ruanda / Crédito
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Amostras de Ankara à venda no Mercado
Balogum, em Lagos, Nigéria/ Crédito
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Como um dos exemplos desses novos talentos, está o moçambicano
Taibo Bacar, de 28 anos. Habitué das s
emanas de moda de Angola, África do Sul e, claro, Moçambique, onde em 2008, apenas um ano após fundar sua marca, foi nomeado Best Established Designer. O designer também já chegou a mostrar suas criações na Milan Fashion Week – Donna de 2011, e chamou a atenção de le monsieur Valentino Garavani durante a International Herald Tribune Design Conference em Roma, no ano seguinte.
Segundo
a publicação Rossio Magazine, Taibo Bacar não segue um processo criativo tradicional. Ele conversa com os tecidos e escuta o que têm a dizer para, depois, dar-lhes vida. E parece que, desta vez, as capulanas do moçambicano lhe disseram que gostariam de se tornar sofisticados vestidos, saias e casacos a exaltar a silhueta feminina, com toques de renda guipir, seda e musseline de seda, ora se ajustando ao corpo, ora marcando a cintura, com certo perfume bon-ton, ora deixando as pernas ou costas estrategicamente à mostra.
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Taibo Bacar Outono/Inverno 2013/ Divulgação
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Elle Paris/ Per-Anders Petterson©
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O potencial criativo desses estilistas africanos não escapou aos olhos sensíveis da editora-chefe da Vogue Itália, Franca Sozzani, que vem se empenhando na identificação e promoção de talentos locais. Ela também é Embaixadora das Nações Unidas no projeto
Fashion 4 Development que visa o desenvolvimento econômico e social por meio da moda, atuando em alguns países do continente.
Em 2012 Sozzani esteve em Botswana, Gana, Nigeria e Uganda, visita que culminou na edição da
L’Uomo Vogue de maio daquele ano intitulada Rebranding Africa. Além da moda, a revista abordou outras questões relacionadas à imagem e ao desenvolvimento do continente.
O diálogo da editora com a Àfrica parece estar só no começo. Além da
Vogue Black, por meio do programa Fashion 4 Development, Franca selecionou seis marcas africanas, cujas peças estão à venda desde abril deste ano na prestigiada loja de departamentos La Rinascente (projeto
Afrofuture) em Milão. São elas:
Adèle Dejak (Quênia),
Kofi Ansah para Art Dress (Gana),
Lem Lem (Etiópia),
Kiko Romeo (Quênia),
Folake Folarin-Coker para Tyffany Amber (Nigéria) e
Global Mamas (Gana). Em comum os estilistas têm o talento e
Fair Trade.
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La Rinascente/ Divulgação |
A Folake Folarin-Coker, fundadora da marca Tiffany Amber mostrou suas criações na semana de moda de Nova York em 2008 e 2009.
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Tiffany Amber/ Divulgação |
As criações de Kofi Ansah para Art Dress, Lem Lem, Kiko Romeo promovem o trabalho de artesãos e jovens estilistas locais. Já Global Mamas é uma ONG que promove o trabalho de jovens empreendedoras em Gana e integra a World Fair Trade Organization (WFTO) e da Fair Trade Federation (FTF).
A ação na La Rinascente mostra que a moda da África vai muito além das capulanas e os tecidos coloridos e estampados. Mostra que o mundo da moda começa a criar a desenvolver novas raízes.
Adriane Danilovic* é advogada formada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e, desde o início de 2013, vem estudando, fotografando e escrevendo sobre moda por paixão acspacheco@gmail.com
*A Adriane é a primeira a colaboradora do Moda pra Ler.
Se você tem pautas interessantes e originais e está afim de um lugar para publicar, o blog está de portas abertas.
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E falando em África aproveito o post temático para indicar o livro “New African Fashion” (Helen Jennings/ Editora Prestel). Dá até tontura de tanta novidade.
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#bookdodia |
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O livro também contempla modelos e fotógrafos africanos. |